Lixiki

Manifesto Reutilizar Transforma

@nima_acessorios_arte

REUTILIZAR TRANSFORMA

Manifesto aposta na reutilização dos materiais como cultura de sustentabilidade

Iniciativa faz um chamado coletivo para a importância do tema e a valorização das coisas, na vida pessoal e também no setor produtivo.

manifesto reutilizar transforma

No centro dos 3Rs da Sustentabilidade, reutilizar, no Brasil, nunca teve o destaque da reciclagem – nem como uma possibilidade concreta para a solução dos resíduos ou um conceito em evidência na sociedade. Muito pelo contrário, reutilizar ainda está fortemente associado à escassez de recursos financeiros e preconceito, como termo “gambiarra”. Mas, no manifesto Reutilizar Transforma, todas as atenções se voltam para esse pilar, fazendo um chamado coletivo para a importância do tema e a valorização das coisas.

A iniciativa é da “engenheira de upcycling” Ana Borba, como ela se define, uma recifense que vive em São Paulo e há mais de uma década adotou o princípio da reutilização como filosofia de vida e acabou transformando a experiência em negócio – a Lixiki -, que foi sendo modelada a partir da criatividade e da vontade de criar algo novo sem referências. A engenheira explica que a inquietação nasceu enquanto atuava no ramo da construção civil e percebia a quantidade de resíduos que sobravam de cada obra e isso lhe incomodava absurdamente.

A proposta do manifesto é incentivar à reutilização e, para isso, convida pessoas que adotam o conceito no cotidiano para compartilhar suas práticas, gerando um movimento espontâneo de troca de experiências, conhecimento e inspiração. Para dar visibilidade ao trabalho, o Reutilizar Transforma disponibiliza um endereço na internet, alimentado colaborativamente por todas as pessoas que queiram se engajar.

“Quando reutilizamos, partimos do princípio da abundância. Já existem milhares de possibilidades no que está criado e boa parte disso pode ser reutilizado com um custo muito menor do que criar uma embalagem nova, por exemplo, ou enviar para a reciclagem”, analisa Ana Borba, citando que a reciclagem, sozinha, não dará conta de resolver todo o passivo ambiental gerado com o descarte e que requer, ainda, toda uma estrutura para que seja efetivada. “Já o reutilizar é possível fazer independente do prefeito, síndico do prédio ou associação de moradores. Só depende da gente”, incentiva.

A engenheira é crítica do conceito lixo zero: “o conceito surgiu com a finalidade de resolver a questão, mas não dá liga. Ninguém quer ser “zero”, decrescer. Somos seres abundantes, assim como a natureza”, considera, fazendo uma analogia à árvore. Ana Borba segue na reutilização das coisas, mas também vê a economia circular como expoente para produção mais sustentável e com menor impacto, especialmente quando o ciclo se fecha.

No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei 12.305/10, é recente, se comparada ao processo de industrialização do país, migrações e êxodo rural, que contribuíram fortemente para o aumento da produção de resíduos sólidos urbanos. Além de determinar o “fim dos lixões”, a legislação contempla, a não geração, a redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos (parte que não pode ser reaproveitada).

Nesse cenário, em 2019, de acordo com levantamento do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (numa amostra de 66,6 municípios brasileiros e mais de 80% da população), foram coletados 65,1 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, o equivalente a quase um quilo de lixo por habitante/dia. 

O documento aponta que 38% dos municípios contavam com serviço de coleta seletiva, 1.163 unidades de triagem e um gargalo. Apenas 1,61 milhões de toneladas foram coletadas seletivamente (o equivalente a 2,5% do restante dos resíduos coletados), com um aproveitamento de 90% do total. O que não vai para a reciclagem, acaba sendo aterrado, com um custo alto aos cofres públicos. O restante dos resíduos – que nem está contemplado no levantamento -, acaba sendo jogado em terrenos baldios, nos lixões clandestinos, poluem o solo, os rios e os mares. 

Agir para sustentar a vida da nossa própria existência deve ser um compromisso individual e coletivo e a reutilização pode dar a sua contribuição, prolongando a vida útil dos materiais, servindo de ferramenta educativa e estimulando o surgimento de novas tecnologias e negócios. “As empresas procuram a Lixiki para reutilizar porque estão insatisfeitas em apenas reciclar e também para que a reutilização seja um veículo de comunicação das práticas de sustentabilidade adotadas”, destaca Ana Borba.

Reutilize também!

Se você faz parte desse time que adora dar uma segunda chance às coisas, conheça o mural colaborativo da plataforma e una-se à causa. Lá  é possível colocar suas práticas e até divulgar seu trabalho, caso a reutilização esteja no dia a dia da sua profissão. Para cada prática, podem ser enviadas até cinco imagens ou um vídeo. E não há limite de envio de práticas por pessoas.

Outro momento de engajamento para a causa acontece por meio de rodas de conversa da Lixiki, que acontecem em pequenos grupos, onde os praticantes da reutilização compartilham suas experiências, ensinam e aprendem ao mesmo tempo. 

Lixiki

Fundada por Ana Borba em 2008, a Lixiki recebeu um reforço de peso em 2012, com a chegada de Eric Carrazzoni. Unidos na vida e nos negócios, Ana é mãe do Eric, trocaram o mercado tradicional para apostar em algo que vislumbravam, mas não tinham uma ideia clara da forma que tornaria.

Sustentabilidade e criatividade movem a vida e os negócios da dupla e, juntos, já transformaram muitas pessoas através dos projetos de reutilização de materiais que iriam parar no lixo – “uma prática de aprendizagem ecológica”, como definem. 

Acompanhe o Reutilizar Transforma e a Lixiki nas redes sociais – Facebook, Instagram e Youtube.

Fotos: Lixiki/Reutilizar Transforma (divulgação)

Texto: Andréa Luiza Collet, mãe, jornalista, reutilizadora e transformadora

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